quarta-feira, 3 de setembro de 2008

MENSAGEM EPISCOPAL AOS JOVENS

Encontro Diocesano de Juventude
Catedral Anglicana do Bom Samaritano
Recife, 30 de agosto de 2008.

Mensagem Episcopal aos Jovens

“Combata o bom combate da fé”
1 Tm 6:12a

Meus queridos irmãos e irmãs,
Eu vos saúdo esta manhã com a
Graça e a Paz do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo!

Gostaria de expressar a minha mais profunda alegria com a realização desse evento, com a presença de vocês, integrantes de diversas Paróquias e Missões, em um momento de adoração conjunta, de louvor conjunto, de estudo conjunto, de planos conjuntos, na unidade de sentimentos, no congraçamento como parte vital da família diocesana.

Como ex-assessor, por mais de dez anos, da Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB), trabalhando com jovens, secundaristas e universitários, em vários Estados do País, o meu chamado, o meu coração e a minha visão estiveram sempre com a juventude.

Sonhei em ter nas organizações paroquiais de mocidade e em uma forte Secretaria Diocesana de Juventude uma das marcas do meu Episcopado. Quase onze anos depois, é lamentável constatar que esse sonho nunca foi realizado, e que essa é apenas a segunda vez que tal evento vem a acontecer, e, mesmo assim, como um número, de participantes e de comunidades representadas, muito aquém do possível.

Há poucas décadas, um encontro continental de líderes de uma das confissões cristãs da América Latina, constatou, acuradamente, que este é um Continente de duas maiorias: a maioria sócio-econômica dos pobres, e a maioria etária dos jovens. Um Continente de jovens e de pobres. O Cristianismo para ser relevante nessa parte do mundo tem que priorizar esses seguimentos, sem que isso signifique descaso para com os demais.

A juventude não é somente o futuro da Igreja, pois as Igrejas sem jovens vivem a sua morte anunciada, e, como tem acontecido, principalmente na Europa e na América do Norte, elas estão desaparecendo, fechando as suas portas, ou transformadas em museus, com o enterro do último ancião. O que vemos na África, na Ásia e na América Latina é um quadro, em geral, animador, pela presença dos jovens nas comunidades de fé. Os jovens de hoje garantem que haverá Igreja amanhã.

Repito: a juventude não é somente o futuro da Igreja, ela é o presente da Igreja, na força do seu vigor, na generosidade dos seus ideais, na capacidade de dar a Igreja o sabor do seu tempo e do seu lugar.

Há alguns anos, um jovem me dizia: “Há pastores que parecem que nunca foram jovens”, pois não dialogam com os jovens, não escutam os jovens, não valorizam os jovens, não abrem espaços para os jovens, desconfiam dos jovens, têm medo dos jovens, ou os ignoram. Outra jovem reclamava: “Os nossos pastores não nos valorizam porque nós não temos dinheiro”.

Sou de uma geração que conheceu fortes movimentos de mocidade nas diversas denominações evangélicas brasileiras, com seu departamento espiritual, seu departamento social e seu departamento intelectual, em que, entre congraçamentos e sonhos, se debatia as grandes questões do país e do mundo, à luz das Escrituras e da História da Igreja. Esse dinamismo foi fortemente afetado com a Ditadura Militar, que nos reprimiria por três décadas, e nunca foi inteiramente recuperado. Com a repressão dos fundamentalistas aos movimentos denominacionais, foram os movimentos interdenominacionais, como a ABU, que serviram de espaço para os jovens daqueles anos difíceis.

Naquele tempo, os jovens tinham as suas próprias diretorias, se autogovernavam, tendo um clérigo ou oficial leigo como mero Capelão ou conselheiro. Hoje o que se vê são movimentos para os jovens e não de jovens. Movimentos para os jovens dirigidos, controlados, pelos adultos. Os jovens não podem pensar, nem liderar. Há um medo da juventude. Ela hoje é chamada a ficar cantando corinho, dando pulinho, entrando em transe no templo e fazendo pic-nic fora dele, mas nunca pensando, nunca propondo, nunca liderando. De pulo em pulo, em sua alienação, ele/ela deverá envelhecer, se tornar adulto, ser pai, e, somente então, será considerado uma pessoa normal e confiável.

Por todo esse Brasil a fora há milhões de jovens que estão fora das Igrejas, fora do Evangelho, alguns entregues à idolatria, à superstição, ao esoterismo, à magia; outros vivem o hedonismo do consumismo e do prazer, alienados e estrangeirizados, buscando o ter e não o ser; outros, ainda, estão entregues ao alcoolismo, às drogas, à delinqüência. Isso quando nos referimos aos jovens ricos ou aos jovens de classe média. O que dizer dos sofridos jovens trabalhadores urbanos, e dos mais sofridos ainda jovens trabalhadores rurais, batalhando pelo pão de amanhã, roubados em seus sonhos?

Há um mundo desorganizado, há um país corrompido, violento e injusto, que nunca mudará, se homens e mulheres que foram alcançados pela Graça de Deus, que foram renascidos, que foram convertidos, que foram mudados, não se transformem em canais de mudança, em agentes de transformação histórica nas mãos de Deus.

Isso nunca acontecerá se os jovens cristãos se mantiverem em seu mundinho fechado, protegido, medíocre, alienado, irrelevante. Não precisamos de igrejeiros, mas de discípulos de Cristo, de missionários que buscam ganhar outros para Cristo, sabendo e compartilhando o Plano de Salvação, descobrindo e exercendo os seus dons, descobrindo e exercitando a sua vocação, pagando o preço do discipulado, negando-se a si mesmo, carregando a cruz. Que tipo de Igreja temos? Que tido de programação para jovens elas promovem? Que tipo de jovens elas estão formando?

Um dado extremamente preocupando com o Brasil é que quanto mais aumenta o número de cristãos, mais aumentam os nossos problemas. O esperado seria que o aumento do número de cristãos resultasse, necessariamente, por sua influência benéfica, por seu papel de sal e luz para o mundo, por sua participação, na redução desses problemas, e não no aumento. Não estaríamos falhando, ao apresentarmos um Evangelho apenas parcial, mutilado, sem desafios, sem riscos de martírio?

Vocês fazem parte de um dos ramos mais antigos e mais sérios do Cristianismo, que é o Anglicanismo. Vocês são herdeiros de ricos ensinamentos e profundos ensinos, de memoráveis exemplos. Vocês integram uma família da fé presente em 164 países, com quase 80 milhões de filiados. Vocês já tomaram consciência disso? Vocês conhecem a sua Igreja?

Sua Igreja – a Igreja Anglicana – tem como pilares as Sagradas Escrituras, as doutrinas contidas nos Credos, os Sacramentos instituídos por Cristo e o sistema de governo Episcopal, dirigido pelos Bispos, sucessores dos apóstolos. Vocês já pensaram nisso?

Sua Igreja vos propõe uma vida missionária, que inclui a proclamação do Evangelho, a integração comunitária, o conhecimento dos ensinos de Deus, o serviço amoroso ao próximo necessitado (como o Bom Samaritano), e a capacidade de defender a vida e se levantar contra as estruturas iníquas do nosso mundo e do nosso país. Vocês já assumiram essa missão integral?

Meus queridos irmãos e minhas queridas irmãs,

As pesquisas nos demonstram que é entre os 15 e os 25 anos de idade que as pessoas tomam as mais importantes decisões de suas vidas, inclusive no plano religioso. É nessa idade que a maioria das pessoas se converte. E, quanto mais cedo nos convertermos, mais tempo teremos nessa vida para servirmos ao Senhor e ao Seu Reino. É nessa idade que sonhamos, que almejamos, que estabelecemos alvos, metas, objetivos, propósitos para a nossa existência. Essa é a idade propícia, sob a iluminação do Espírito Santo, para estabelecermos um projeto de vida.

Você tem um projeto de vida? Ou os seus dias vão correndo, um atrás do outro, com uma noite no meio? Quem dá a pauta para o seu viver: a televisão? A escola? Os amigos? Os parentes? Deus é consultado? Você quer apenas “vencer na vida”, segundo uma visão materialista, ou ter uma “vida vitoriosa”, segundo a vontade de Deus? Para muitas Igrejas, o que se propõe para os jovens é um aparentemente seguro “triângulo de felicidade” (Lar-Trabalho-Igreja), na realidade um “triângulo da mediocridade”, um “triângulo da irrelevância”, um “triângulo da desobediência”. Algo para quem ouve a voz acomodatícia de Pedro no Monte da Transfiguração, e não a voz desafiadora de Jesus.

Sem sabermos o que se passa no mundo e no Brasil, sem sabermos o que Deus quer que façamos no mundo e no Brasil, não seremos discípulos. Discípulos ausentes dos grêmios estudantis, dos diretórios acadêmicos, dos sindicatos, das associações profissionais, das associações de moradores, dos partidos políticos, dos movimentos sociais? Discípulos que tornam as Igrejas em armazéns de secos e molhados, empilhando sacas de sal e caixas de lâmpadas? Onde está o ide? Onde o sal da terra e a luz do mundo? Conhecer o mundo, discernir o mundo, interceder pelo mundo, agir no mundo.

Paulo, apóstolo, tinha como um dos seus discípulos mais queridos um jovem líder. O seu nome era Timóteo. Paulo escreveu duas cartas para ele que estão em nossas Bíblias, e que eu aconselho que vocês leiam. Paulo agradecia pela vida de Timóteo, pela solidez do seu conhecimento e de sua fé, e que ninguém deveria desprezar a sua mocidade. Paulo encarregou Timóteo de grandes tarefas, mostrou os desafios a serem enfrentados fora e dentro da Igreja e as pistas para a missão. Timóteo era um jovem de oração e de conhecimento da Palavra. Timóteo era um jovem de comportamento exemplar. Timóteo era sólido na sã doutrina e combatia as heresias. Timóteo era um companheiro de luta e de ministério do apóstolo das gentes. Timóteo tinha uma vida missionária. Ele não era um mero espectador, um freqüentador da igreja-clube, ou alguém que apenas ouvia e não praticava. Timóteo era um combatente: um combatente do bom combate da fé!

Ao final da sua primeira carta (1 Tm 6:20), Paulo diz: “Timóteo, guarde o que lhe foi confiado”.

Meus amados irmãos e irmãs,

Vivam, sob o Espírito Santo, esse dia 30 de Agosto de 2008! Vivam, falem e escutem, aprendam juntos com seus companheiros de outras Paróquias e Missões dessa Igreja maior, que é a Igreja-Diocese. Se enriqueçam com a unidade no essencial e com a diversidade no acidental. Riam e chorem juntos. Sonhem juntos. Que esse dia seja algo mais que um evento cronológico, mas um acontecimento do kairós de Deus em suas vidas.

Vocês já foram chamados, já foram alcançados pelo amor de Deus. Agora Ele quer moldar em cada um de vocês o caráter de Cristo. Alguns estão sendo chamados para o Ministério Ordenado, e não fujam desse chamado, pois não serão felizes enquanto não disserem “Sim” para Deus. Outros estão sendo chamados para uma vida missionária em suas profissões, mais do que profissões, vocações.

Somos enviados ao mundo como embaixadores do Reino de Deus, e Ele nos confiou uma mensagem e uma tarefa de reconciliação: reconciliar as pessoas com Deus mediante Jesus Cristo, reconciliar a Igreja pelos laços de afeição, reconciliar as organizações e as estruturas com os valores do Reino, de Justiça e de Paz. A Palavra de Deus nos ensina que não há verdadeira paz sem justiça, que a paz é fruto da justiça.

Um país marcado pela corrupção, pela violência e pela injustiça social. Uma Igreja marcada pelas divisões carnais, pelo caciquismo, pela importação desordenada de tudo que vem do estrangeiro, pelo legalismo, pelo moralismo, pelo emocionalismo, pelo sincretismo, pela insensibilidade e irresponsabilidade social. Uma Igreja que não se integra à grande Igreja, o Povo da Nova Aliança, seus ramos históricos, como o nosso Anglicano, à sua regionalidade, como a nossa Diocese.

Esse é o mundo que vocês têm, e não outro. Deus não vai mandar anjos para solucionar esses problemas. Ele concedeu essa honra a vocês. Todo poder vem d’Ele. Todo discernimento vem d’Ele. Mais do que mera existência, vida, e vida em abundância, que é a vida em obediência.

Receba desse seu Bispo e Pastor um abraço fraterno, sentimentos ternos, solidariedade e encorajamento.

Concluo com Paulo fechando a sua segunda epístola a Timóteo (II Tm 4:22): “O Senhor seja com o seu espírito. A graça seja com vocês”.

UMA JUVENTUDE EVANGELIZANDO PELA PAZ - REV. MAURÍCIO AMAZONAS, OSE


O QUE É EVANGELISMO? SEGUNDO A BÍBLIA...

Evangelismo é a atitude obediente da Igreja do Nosso Senhor Jesus Cristo para anunciar o Evangelho do Reino de Deus, para todas as pessoas, em todos os tempos e lugares: “ensinando e batizando” (Mt 28.19-20; Mc 16.15-16);
Evangelismo é anunciar ao mundo que temos uma mensagem vinda diretamente de Deus para o coração de todas as pessoas amadas por Ele (Tt 2.11);
Evangelismo é anunciar uma mensagem urgente para que todas as pessoas reconheçam seu estado pecaminoso diante de Deus (Rm 3.23; 6.23), arrependam-se e aceitem a oportunidade de se reconciliar com Ele (At 17.30), pois em breve Ele virá como juiz para acertar as contas com vivos e mortos (2Tm 4.1);
Evangelismo é anunciar todo o conselho de Deus, para todas as pessoas, considerando a pessoa na sua totalidade (At 20.27; Cl 1.28);

COMO SE EVANGELIZA? PELA HISTÓRIA E PELA PRÁTICA...

Com ações criativas e inteligentes. Pode-se e deve-se usar dos mais diversos meios de comunicação, tais como a música, a poesia, a literatura, a pintura, o teatro, o cinema, a dança e as mais modernas formas de arte e de mídia;
Com ações humanitárias. Construções e manutenções de escolas, creches e asilos, bem como nossa assistência aos enfermos, hospitalizados e encarcerados;
Com ações coletivas ou mutirões. Pode-se fazer reparos de manutenção elétrica, hidráulica, consertos e pinturas em Associações de Moradores, Clubes de Mães, ou em casas populares, principalmente em tempos de calamidades;
Com um estilo de vida simples. São Francisco de Assis ensinava aos seus discípulos: “Evangelizem sempre. Se for preciso, falem alguma coisa!”

ENGELIZAÇÃO PELA PAZ! ESTA É A FORMA BÍBLICA E EFICAZ...

Nossa postura deve ser uma atitude de paz. Nossas piores dificuldades são as nossas ações e reações relacionais. Como é a sua direção no trânsito? Nosso discurso, muitas vezes, não é agressivo? Nossas relações amorosas, familiares, profissionais, comerciais e sindicais são marcadas pela violência e pela coerção? Desse modo, fica difícil falar de paz. “Bem-aventurados os pacificadores” (Mt 5.9);
Evangelização é o anuncio da mensagem do nosso “Príncipe da paz” (Is 9.6). Jesus Cristo é a nossa paz. Ele veio para anunciar a paz e desfazer a inimizade que estava posta entre nós e Deus, e entre os seres humanos (Ef 2.14-17; Cl 1.20)