Reverendíssimo bispo diocesano Robinson Cavalcanti, reverendos e reverendas (diáconos/as e presbíteros/as), caros irmãos e irmãs em Cristo Jesus, em um texto onde eu me posicionava no tocante às inquietações de um simples seminarista que, no breve caminhar de 4 anos dentro desta diocese, venho alimentando, em parte por desejar dar o melhor de mim à nossa diocese, em parte por desejar o que todos nós desejamos: a consolidação de uma diocese cada vez mais dentro dos propósitos do Reino Celestial e unida na busca desse ideal, me questionava que Hoje se fala muito em Igrejas com propósitos! Mas será que o propósito das mesmas está em congruência com o propósito de Jesus, de nossa Diocese, ou será que apenas de acordo com o plano da sociedade neoliberal e pós-moderna, que relativiza tudo, inclusive o Evangelho, quando é permitido incluí-lo?
Acredito firmemente que nossas paróquias, sem exceção, são todas dirigidas por propósitos que considero dignos de serem considerados dentro dos planos do Senhor:
1. Adoração (Mateus 22.37)
2. Ministério (Mateus 22.39)
3. Evangelismo (Mateus 28.19)
4. Comunhão (Mateus 28.19)
5. Ensino (Mateus 28.20)
Esse cinco propósitos da igreja podem ser claramente percebidos durante toda a Bíblia, mas eles aparecem de forma mais específica em duas passagens clássicas de Jesus: O Grande Mandamento (Mateus 22.36-40 - "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o primeiro grande mandamento. O segundo, semelhante a este é: amarás o teu próximo como a ti mesmo.”) e a Grande Comissão (Mateus 28.19-20 - “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco sempre.”), e creio que não deveriam ser apenas os propósitos de nossas Igrejas anglicanas, mas de todas as igrejas cristãs.
Amados a amadas, o pouco conhecimento que tenho do tema me faz crer que toda Igreja possui propósitos que norteiam o seu trabalho. Esses podem ser: a tradição, uma ou mais pessoas, e as finanças, dentre outros. Esses propósitos podem assim, estar ou não em congruência com o plano de Deus para nossas vidas e para a Sua Igreja. Dessa forma, uma Igreja com propósitos em concordância com o plano divino tem ciência que “Muitos propósitos há no coração do homem, mas o desígnio do Senhor permanecerá.” (Pv 19: 21). Quando edificada nos planos do Senhor, a Igreja sabe que "... as portas do inferno não prevalecerão contra ela." (Mt 16: 18) e seus pastores podem dizer que “Segundo a graça de Deus, lancei fundamento como prudente construtor ... Porém cada um veja como edifica ... Manifesta se tornará a obra de cada um; porque está sendo revelada pelo fogo [a obra de cada um]... Se permanecer a obra de alguém, esse receberá galardão.” (I Co 3: 10-14).
De acordo com o relato de João 17: 1-26, vemos que o próprio Jesus, praticou estes propósitos em sua caminhada:
Versículo 4 - "Eu te glorifiquei na terra" (ADORAÇÃO)
Versículo 6 - “Manifestei o teu nome aos homens que me deste no mundo.” (EVANGELISMO)
Versículo 8 - “Eu lhes tenho transmitido as palavras que me deste.” (ENSINO)
Versículo 12- “Quando eu estava com eles, guardava-os ... e protegia-os.” (COMUNHÃO)
Versículo 18- “Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.” (SERVIÇO)
A igreja primitiva cumpriu estes cinco propósitos, como nos demonstra o relato de Atos 2: 41-47 (“Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, ... E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e orações ... Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum ... Diariamente perseveravam unânimes no Templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria ... louvando a Deus ... Acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.”)
O apóstolo Paulo explicou estes cinco propósitos em sua carta aos Efésios, capítulo 4: 11-16 (“E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço para a edificação do corpo de Cristo. Até que todos cheguemos a unidade da fé (isto e comunhão) e do pleno conhecimento do Filho de Deus (discipulado que leva a maturidade), à medida da estatura da plenitude de Cristo; de quem todo corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte efetua seu próprio aumento”).
Poderíamos resumir dizendo que a Igreja existe para:
1. Celebrar a presença de Deus em adoraçāo;
2. Comunicar a palavra de Deus aos incrédulos;
3. Trazer a família à Comunhão com Deus;
4. Ajudar o povo de Deus a Crescer Através do Discipulado;
5. Demonstrar o amor de Deus Através de Ministério.
Essas cinco tarefas revelam cinco propósitos:
1. Exaltar ao nosso Senhor Jesus;
2. Evangelizar os não-convertidos;
3. Animar os nossos membros;
4. Educar nos caminhos do Senhor, tornando maduras as ovelhas;
5. Dar condições de exercício do ministério.
Dá-me bastante alegria em saber que nossos reverendos e reverendas buscam por suas paróquias dentro destes cinco propósitos, e mais do que isso, buscam exortar as suas ovelhas para que desenvolvam também esses propósitos em sua vida e caminhada cristãs.
Graças à imensa misericórdia de nosso Senhor Jesus, e ao Seu imenso amor por nossa Diocese, bem como ao imenso trabalho realizado por nosso bispo e nossos reverendos e reverendas, irmãos e irmãs, nossa diocese conseguiu sobrevier aos inúmeros ataques do inimigo e as inúmeras crises pelas quais passou. Essas crises deixaram muitas marcas, as quais estão em lento processo de cicatrização.
A minha preocupação, no momento em que escrevia minhas inquietações residia no fato de que muitas Igrejas cristãs de hoje se colocam como sendo orientadas “por propósitos”, mas vemos surgindo nas mesmas práticas que fogem aos propósitos do nosso Senhor Jesus. Crescem o número de escândalos, aumenta o número de pastores que se deixam ser influenciados pela teologia liberal e pela influência das teorias pós-modernas e neoliberais, que relativizam tudo, inclusive o Santo Evangelho do nosso Senhor Jesus. Pastores defendendo a relativização do Evangelho, ou seja, o que me garante fiéis em número eu prego, o que me afasta fiéis eu escamoteio ou apenas abandono. Cria-se o hábito de pregar bênçãos, restituição, e se esquece da exortação. Prega-se um Deus piedoso que ama a todos de forma tão imensa que seria capaz de levar à Sua presença mesmo os que compactuam com pecados que a Sua Santa Palavra condena, como é o caso do homossexualismo, por exemplo. Quero aqui dizer que enquanto cristãos devemos mesmo amar os homossexuais, mas como cristãos não devemos deixar de exortá-los com relação à sua prática pecaminosa. De forma alguma devemos pregar que Deus aceita tudo por ser piedoso e amoroso em excesso. Deus é justo! Vejamos o exemplo do nosso bispo, que vem sofrendo muitas críticas e resistindo a muitos ataques por manter-se firme à ortodoxia bíblica. Quantos pastores e membros nossa diocese não vem perdendo pelo fato de se manter firme aos preceitos bíblicos? Estejamos juntos e juntas nesta luta, que não é exclusiva do bispo, mas de todos e todas que compõem a Diocese do Recife! Reforcemos as trincheiras!
Amados e amadas, como cristãos devemos crer no poder de restituição divino, mas devemos ter em mente que mesmo a restituição divina se dá apenas porque Deus quer, e não porque pedimos e clamamos por ela. Não foi o diabo que mandou os gafanhotos ao Egito, mas sim o próprio Deus, devido ao pecado daquele povo. Não foi o diabo que mandou a seca ao Egito por sete anos, mas Deus. Entretanto, o mesmo Deus que pune o pecador, também abençoa o reto e puro de coração. O mesmo Deus que mandou a seca, mandou também a prosperidade, a fartura. O mesmo Deus que permitiu que Jó fosse tocado pelo diabo também é o mesmo que restituiu a sua saúde e riqueza. Mas Deus só faz o que Lhe apraz, no momento que Lhe é o melhor, e para o que Ele quer. Dessa forma, não adianta estarmos louvando (ou será apenas cantando?) “Restitui, eu quero de volta o que é meu!” Nada neste mundo é nosso, tudo é de Deus, e “do que é d’Ele O damos”! Não temos nada! Até nossa vida não é nossa, mas d’Ele e para Ele, conforme Colossenses 1: 16, que diz que “porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele”. Nos desprendamos portanto, do egoísmo, da passividade, da omissão, e arregacemos as mangas para contruir juntos uma Diocese cada vez mais forte.
Amados e amadas, mesmo apesar de muitos problemas, hoje podemos render graças a Deus porque as nossas paróquias – todas com propósitos voltados ao Reino de Deus – seguem firmes e fortes no ministério, no evangelismo, na comunhão, na adoração e no ensino da Palavra de Deus. Graças a Deus nossos pastores que adotam a missão de trabalhar “com propósitos” vêm colhendo os frutos de seu árduo e comprometido trabalho: ganhando pessoas para Cristo e, desenvolvendo na membresia a maturidade cristã, equipando os membros para o seu ministério na igreja e sua missão pessoal no mundo, de forma que seja dada toda a honra e toda glória ao nome de Jesus.
Estejamos cientes de que dentro do propósito do evangelismo, nosso alvo é a comunidade. Dentro do propósito da adoração, nossa tarefa é a exaltação de Jesus e nosso alvo é a multidão de fiéis. Dentro do propósito da comunhão, nossa tarefa é o encorajamento e nosso alvo a congregação. Dentro do propósito do discipulado, nossa tarefa é a edificação e nosso alvo é a maturidade de nossos fiéis. Dentro do propósito do serviço, nossa meta é equipar os núcleos que compõem as nossas paróquias para o ministério cristão.
Dentro dessas questões é que desejo trabalhar com a juventude de nossa diocese. No concílio diocesano passado, fui nomeado secretário diocesano de juventude pelo bispo. Dentro do que considero uma visão diocesana de juventude, acredito que muita coisa ainda está por ser feita, mas considero muito importantes todos os trabalhos e atividades desenvolvidas pelos secretários que já passaram pelo cargo que ora ocupo.
Amados/as, o propósito deste secretário é contribuir para a consolidação de uma juventude legitimamente anglicana, de forma que muitos de nossos jovens, que são o futuro mais próximo de nossa diocese, se reconheçam como anglicanos e saibam, e estejam prontos para, defender sua fé e sua denominação dos ataques do inimigo e de outros “soldados de Cristo alistados em quartéis diferentes”, no momento em que for necessário.
A maior parte dos nossos jovens não conhecem em totalidade as nossas crenças, seja enquanto evangélicos, seja enquanto Igreja histórica e reformada que somos, seja enquanto projeto diocesano de juventude. Muitos nunca ouviram nem falar sobre o nosso bispo, nem o conhecem. Muitos acham que suas paróquias são as únicas que existem no nosso estado como igrejas anglicanas. Muitos/as acham que ainda fazemos parte da IEAB. Muitos acham que pertencemos à Igreja romana por termos um bispo e estarmos dentro de uma diocese. Muita coisa há para ser feita e “...a seara é realmente grande, mas poucos os ceifeiros” (Mateus 9: 37).
Em virtude disso, venho por meio deste texto, solicitar o apoio dos reverendos e reverendas, irmãos e irmãs que compartiham deste meu desejo e projeto de juventude diocesana.
Desde que ocupei o cargo de secretário, estou a visitar nossas paróquias, para um contato face a face com os pastores/as e jovens, de forma a deixar claro o meu propósito de anglicano e disponibilizar-me para qualquer ajuda em que eu possa contribuir enquanto jovem e enquanto secretário diocesano. Desde então, tenho tido um retorno muito favorável dos pastores e pastoras e dos jovens com os quais conversei.
Como forma de ajuda, peço aos reverendos e reverendas que me enviem por e-mail os nomes, telefones e e-mails de seus líderes de juventude, de forma que eu possa estabelecer com eles um diálogo e possamos juntos, de forma bem democrática e transparente, traçar planos e metas para a nossa juventude diocesana.
Peço ainda que me enviem sugestões, de forma a contribuir com o secretário em sua caminhada e em sua construção de uma juventude diocesana com propósitos.
Que Deus possa abençoar não só a vida de vocês reverendos e reverendas, mas que Ele venha a abençoar também seus ministérios e suas paróquias, missões ou pontos missionários, para que elas sejam frutificadas dando frutos a cem por um, em nome de Jesus. Amém!
Recife, 28 de março de 2008
Sem. Frei Luciano Jr, OSE
Secret. Diocesano de Juventude